José Wilson, integração de um antigo garimpeiro com o turismo em Tepequém

JESSÉ SOUZA
jesseroraima@hotmail.com



José Wilson tenta sobreviver do turismo, cuidando de uma trilha e fazendo apresentação aos turista


As histórias do garimpo ainda podem ser ouvidas dos próprios personagens na Serra do Tepequém. Filhos dos primeiros garimpeiros ou aqueles que nunca mais partiram, seja pela idade avançada ou por terem “blefado” (ficar sem dinheiro, na gíria garimpeira), podem ser facilmente encontrados nas vilas.  Nem todos podem ser considerados ex-garimpeiros, pois alguns ainda fazem a cata de diamante de forma artesanal, conforme a legislação permite.

Suas histórias são testemunhos vivos e, se houver uma política que os envolva e os reconheça como Patrimônio Cultural e Imaterial, eles podem contribuir para a construção de um turismo diferenciado, que integre suas vivências e experiência com a exploração do potencial das belezas naturais que se recuperam das agressões ambientais do passado.

Poção Paraíso fica aos fundos da cabana de José Wilson, a caminho da Vila Cabo Sobral


Exemplo disso é o aposentado José Wilson, 68 anos, que mora às margens da estrada de acesso à Vila do Cabo Sobral. Ele nasceu no Ceará e chegou a Roraima em 1974 para trabalhar nos garimpos da Venezuela, ao Norte de Roraima.

Depois de pegar diamantes na Serra do Tepequém, na década de 1980, montou um supermercado e comprou um sítio no Município de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela. O comércio foi desfeito em uma separação e o sítio acabou desapropriado com a demarcação de terras indígenas.

Quando perdeu tudo, José Wilson decidiu voltar definitivamente para Tepequém, há 11 anos, quando passou a morar na sua cabana, feita de lona e pedaços de latões, mantendo a tradição garimpeira. Aquela área onde ele mora era conhecida como garimpo do Fuxico, cujas antigas grotas ficam a poucos metros de sua casa.

Trilha que leva à Corredeira da Laje, localizada em um trecho do Igarapé Cabo Sobral


No local não há água encanada nem energia elétrica. Ele toma banho numa piscina no leito do córrego que ele construiu. Hoje ele tenta viver do turismo, recepcionando visitantes que vão conhecer o Poção Paraíso, aos fundos de seu barraco, e a Corredeira da Laje, a cerca de 15 minutos a pé (matéria sobre esse roteiro turístico será publicada futuramente). Ele mantém aquela trilha para os turistas.

Poção é como são chamadas as lagoas que se formaram a partir das crateras deixadas pelo garimpo (veja matéria posteriormente). A Corredeira Laje foi um local de garimpagem no Igarapé Cabo Sobral. As marcas da exploração mineral não tiraram a beleza do local, que não está no roteiro turístico dos guias.

Wilson não só relembra histórias do garimpo como também pode fazer apresentações aos turistas sobre como garimpar com suas tralhas, chamadas de suruca. Os “xibius” (diamantes pequenos) que ele pega são vendidos como souvenir.

 

NOTA DO AUTOR: Sempre é bom frisar que a legislação permite a garimpagem artesanal individual na Serra do Tepequém. O que é proibido é a mineração com maquinários ou outra forma que degrade o meio ambiente.

 


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