Dona Iraci Guimarães, pioneira da Serra do Tepequém, lúcida para narrar a História


JESSÉ SOUZA
jesseroraima@hotmail.com





Iraci Colares Guimarães,viúva de um dos primeiros garimpeiros de Tepequém


Imagem do ano em que D. Iraci chegou a Tepequém, em 1954 (Foto: IBGE/Antônio Teixeira Guerra)



Apesar de o turismo ter se tornado a atividade principal na Serra do Tepequém, no Município do Amajari, a partir da década de 2000, tudo por lá ainda respira a garimpo, cujo auge da exploração de diamantes foi de 1940 a 1960. São poucos os remanescentes dessa época. Uma dessas pessoas é dona Iraci Colares Guimarães, 81 anos, esposa de um dos garimpeiros pioneiros.

Depois da descoberta do diamante, em 1930, por quatro desbravadores (veja história da descoberta de diamantes em outra postagem abaixo), um dos primeiros garimpeiros a chegar para explorar diamante foi Benedito da Gama Guimarães. Dona Iraci foi a segunda esposa desse grande pioneiro, que continua lúcida para narrar a História.

A ex-garimpeira ainda mora na Serra do Tepequém, em um dos locais onde existe uma trilha para subir ao Platô, no Igarapé Preto. Seus filhos também moram em sítios vizinhos ao dela, na área conhecida como Vicinal Igarapé Preto. Apesar de seus 81 anos, está bem lúcida e se tornou uma das personagens mais importantes em vida do auge do garimpo.

Tudo começou quando ela foi passar férias em Tepequém em 1954, aos 15 anos de idade, e conheceu Benedito, que na época tinha 40 anos de idade e era viúvo. Ele foi um dos primeiros garimpeiros a chegar à serra,  em 20 de janeiro de 1937,  depois que os primeiros quatro exploradores estiveram na região para fazer as pioneiras pesquisas em busca de ouro e diamante.

Dona Iraci guarda não só histórias de vida e do garimpo, como também memórias eo começo de Tepequém. Embora more em Boa Vista, no bairro Caçari, ela passa os fins de semana em sua casa no Igarapé Preto. Os filhos dela e outros familiares também vivem lá.

Ela lembra que presenciou a chegada em massa de garimpeiros em busca do sonho de encontrar a riqueza por meio das pedras preciosas. Da mesma forma que via a chegada de pessoas, também era testemunha do grande número de garimpeiros que perdiam suas vidas pela doença, brigas e acidentes na garimpagem.

A matriarca da família Guimarães relata que os corpos eram enterrados no local chamado Volta do Veloso, em uma curva do Igarapé Cabo Sobral, que foi o berço da exploração e da História de Tepequém (veja outras postagens sobre o assunto, abaixo). Não era um cemitério organizado, mas um local onde os corpos passaram a ser enterrados de qualquer jeito, muitas vezes em covas rasas, acima da Vila Cabo Sobral (que era chamada pelos garimpeiros de corrutela).

À medida que mais garimpeiros chegavam, as áreas de exploração de diamante foram avançando igarapé acima, até chegar à Volta do Veloso, onde foi o antigo cemitério. As pessoas precisavam passar por esse local no trajeto dos barracões, na corruptela, até os baixões, que eram os locais da garimpagem. 

 Ela mesmo relembra ter passado por cima de ossada de pessoas no caminho para o barracão. Embora fosse uma cena comum para quem vivia no garimpo, quando ela chegou em Tepequém, em 1954, achava a cena assustadora e até corria com medo, quando o horário se aproximava das 18h.

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