Ex-garimpeira, filha de pioneiro retorna e refloresta área degrada pelo garimpo em Tepequém


JESSÉ SOUZA
jesseroraima@hotmail.com


Dona Nilza hoje tem como terapia reflorestar área degradada pelo garimpo de diamante


A ex-garimpeira Neuza Guimarães da Silva, 72 anos, conhecida por Nilza, é uma das filhas do pioneiro Benedito da Gama Guimarães, que era conhecido como Beneditão pelos garimpeiros da Serra do Tepequém. A mãe dela, Albertina Guimarães Cruz, morreu aos 33 anos de congestão, quando Nilza ainda era criança, por isso ela foi criada pela segunda mulher de Beneditão, Dona Iraci Colares Guimarães (veja aqui).

A história de vida de Dona Nilza é muito semelhante à das demais mulheres que garimparam na região, com a diferença de que ela e mais quatro irmãos nasceram no próprio Município do Amajari, na região do Ereu. A família foi levada para Tepequém, por Beneditão, quando o garimpo de diamante foi descoberto (veja o texto aqui), em 1937.

Mas tudo mudou com a morte da mãe. Dona Nilza acabou sendo doada para uma família no Ereu e só retornou para Tepequém quando completou 8 anos de idade. Sua vida passou a ser o garimpo na área conhecida como Mina Velha, na Vila Cabo Sobral (veja mais aqui), onde pai trabalhava como os demais, garimpando diamante, na época em que a “dona” do garimpo era a Empresa de Mineração Tepequém Ltda, de propriedade de uma família belga (veja aqui).

Segundo ela, todos trabalhavam para o “Gringo”, como era chamado o responsável pela empresa belga, Poul Hellinger, também chamado de Paulo, filho do proprietário da empresa, Joseph Hellinger. O contrato informal que se tinha na época era esse: qualquer pessoa podia garimpar em Tepequém, desde que vendesse os diamantes para Gringo. E foi a desavença por causa desse trato verbal que custou a vinda de Gringo, como veremos em outra matéria posterior.


Foto de Dona Nilza com o marido, Antenor Pereira da Silva, foi tirada no Uiramutã


Dona Nilza casou-se com o garimpeiro Antenor Pereira da Silva, a quem passou a acompanhar nas aventuras na busca de diamantes em outros garimpos no Município do Uiramutã, especialmente na região do Mutum, onde também pegaram muito diamante.

Inclusive, uma das fotos do casal, exibindo uma peneira cheia de diamantes, foi tirada em Mutum, mas a imagem acabou sendo publicada como se fosse em Tepequém, em um trabalho de pesquisa universitária, não se sabe se propositalmente, por fata de fotos da época para ilustrar a dissertação, ou equivocadamente.

Por isso a imagem se popularizou como sendo do auge do garimpo em Tepequém. Mas Dona Nilza afirma categoricamente que a imagem é de Uiramutã, região garimpeira que fazia parte do roteiro de muitos garimpeiros que trabalham no Tepequém. Era comum os garimpeiros ficarem transitando de uma região para outra, quando o garimpo “cegava” (ou, seja, ficava muito tempo sem a pessoa pegar minério).

Atualmente, Dona Nilza mora ao lado de outros irmãos na Vicinal Igarapé Preto e também da mãe de criação, Dona Iraci. Ela voltou para a Serra do Tepequém há cerca de dez anos, que é o mesmo tempo que o pai, Beneditão, faleceu aos 93 anos.

Primeiro ela construiu um casebre coberta de palha, ao estilo garimpeiro, onde passou a morar sozinha, na companhia apenas de um cachorro, na escuridão da noite, por falta de energia, e isolada devido à falta de estrada. Hoje ela tem um casarão, onde reúne a família que mora em Boa Vista em feriados prolongados e fins de semana.

Sua terapia de vida pós-garimpo, quando também passou por sérios problemas de saúde, é fazer artesanatos para seu próprio uso, cuidar de um amplo jardim e reflorestar as áreas degradas pelo garimpo, no lote onde ela mora, usando plantas nativas, especialmente a palmeira buriti, que é abundante na região.

Aos fundos de seu quintal ainda resistem as marcas do garimpo de diamante, como uma cratera deixada pela prospecção, chamada pelos locais de poção. Hoje está tudo reflorestado por Dona Nilza aos fundos de seu quintal. São pelo menos 40 desses tipos de buracos por toda a serra, que se tornaram lagoas perenes pelo fato de a escavação ter atingido o lençol freático.

Alguns desses poções hoje servem ao turismo, conforme iremos ver nas próximas matérias produzidas por este blog.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

De escavador de buraco ao ecoturismo: a história do garimpeiro que virou professor em Tepequém

Polvinha, ex-fuzileiro que viveu a época áurea do garimpo em Tepequém

Pioneira em acolher turistas, Dona Helena trabalhou no garimpo e hoje é empreendedora